Indonésia

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Após 4 meses de America Latina ansiávamos pelo próximo destino, e com o oceano Pacífico pelo meio, sabíamos que tínhamos um longo caminho pela frente até chegar a Bali. Antes de levantarmos voo tivemos logo o nosso primeiro contratempo, um momento um pouco tenso mas que conseguimos resolver com grande eficácia, ajudando muito a experiência de viagem já acumulada nestes primeiros meses. Disseram-nos que não poderíamos embarcar sem ter um voo de saída da Indonésia, tendo nós pouco mais de meia hora para comprar uma passagem aérea para uma data e um destino que ainda não havíamos pensado. Saímos rapidamente à procura de um local com wi-fi e pusemos as mãos à obra. Com uma internet não muito famosa, lá conseguimos pesquisar as rotas e preços que mais nos convinham e acabámos por comprar um voo para um destino que até nem tínhamos considerado anteriormente. Felizmente tudo correu bem e passadas 40 horas entre voos e escalas com 2 noites sem ver uma cama, chegámos finalmente ao nosso destino dando assim início à nossa tour asiática.

Lembram-se da Inês e do Francisco, o casal de Portugueses que conhecemos no Perú e com quem passámos uns dias na Colômbia? Eles também se despediram para viajar pela América do Sul durante 3 meses, sendo que já estavam no fim da sua viagem e que seria hora de voltar para procurar novo emprego. Em tom de brincadeira começámos a falar na possibilidade de eles se juntarem a nós em Bali, algo que foi ganhando força com o passar dos dias, aceitando eles o desafio e adiando por mais um mês o regresso à vida de trabalhador. Escolhemos Sanur para passar os primeiros dias devido à sua proximidade ao aeroporto, aproveitando para recarregar baterias e esperar pelos nossos amigos que chegariam 2 dias depois. Esta zona da ilha é um lugar muito turístico onde não faltam resorts, lojas, bares e restaurantes. É uma zona bonita mas longe daquilo que pretendíamos da Indonésia. Bem perto visitámos também Kuta, onde o turismo é ainda mais massificado, assemelhando-se muito á rua da Oura em Albufeira, trocando os Ingleses pelos Australianos que aproveitam o clima e os preços baixos bem pertinho de casa. As ruas e as praias enchem-se de vendedores tentando a sua sorte, sendo nós abordados a toda a hora. Os primeiros preços que pedem por qualquer coisa são altamente inflacionados, mas com alguma negociação podemos acabar a comprar por 1/5 do valor inicial. Sendo a Meca do surf, fizemos também uma aulinha onde demonstrámos “grande aptidão”, praticámos algum desporto e divertimo-nos bastante.

Rumámos ao interior da ilha até a cidade de Ubud, contratando um motorista que foi parando em vários locais de interesse durante a viagem, entre os quais uma plantação cafeteira onde conhecemos todo o processo do famoso café Luwak, o café mais caro do mundo que tem a particularidade dos seus grãos serem ingeridos e defecados pelo animal com o mesmo nome. Aí aproveitámos para beber uma chávena desta luxuosa iguaria que na nossa modesta opinião não é nada de especial (“meu rico Delta”). Também visitámos uma fábrica de joalharia onde pudemos observar os funcionários a trabalhar anéis, colares e brincos em prata, parámos ainda na cascata de Tegenungan, entrámos no templo Batuan durante a preparação de uma celebração Hindu, e por fim chegámos aos tão esperados Rice Fields, onde vagueámos por entre os terraços de plantação de arroz, descobrindo entre palmeiras e campos de cultivo os agricultores locais com os seus típicos chapéus de bico nas suas lides diárias. Já em Ubud, fomos visitar o mercado local que é hoje em dia um ponto muito virado para o turismo. Este tem 2 horários destintos, para os locais o movimento começa ainda antes do nascer do sol, sendo que a partir das 8h as frutas e os legumes começam a dar lugar às roupas e às recordações para os turistas, descaracterizando um pouco o espaço. Esta cidade tem a particularidade de ter a poucos metros do seu centro uma floresta onde habitam livremente algumas centenas de macacos, algo que não poderíamos deixar escapar. Bem habituados à presença humana, estes já têm as manhas todas e quem se descuida pode ficar sem os seus pertences. Não tardou e já o Bruno tinha um macaco às costas a abrir-lhe a mochila, felizmente o primeiro assaltante da viagem apenas nos levou um saco de plástico e alguns papéis. Foi bastante divertido ver todas aquelas macacadas e ainda passear pela floresta que é um espaço muito bonito.

Amed foi o nosso próximo destino e por ele nos apaixonamos logo à chegada, finalmente tínhamos chegado a Bali que nós sonhámos. Ficámos hospedados num simpático local a 2 passos da praia e tínhamos em frente aos nossos quartos um pequeno alpendre onde nos sentávamos muitas vezes a conversar, donde para além de podermos observar o mar, tínhamos uma vista privilegiada sobre o magnífico vulcão Gunung Agung, o maior de Bali e que tem a particularidade de estar ainda activo. A lindíssima praia de areia preta foi o nosso habitat durante 5 dias, onde passámos a maior parte do nosso tempo desfrutando daquele mar de ótima temperatura, partilhando-o apenas com meia dúzia de turistas. Ficávamos horas na água até ter os dedos enrugados, ora a contemplar aquela belíssima envolvente natural, ora em longas e animadas conversas, ou a fazer snorkeling. O fundo era composto por lindíssimos corais onde habitavam milhares de peixes exóticos de diferentes espécies, tamanhos e cores, fazendo de nós uns sortudos por poder fazer parte de uma envolvente tão bela. As refeições também eram na praia, em mesas montadas na areia pelos pequenos restaurantes locais que nos deliciavam com saborosas refeições, e que para além de baratos, alguns deles tinham ainda piscina onde aproveitávamos para intervalar com a água salgada. Os momentos mais bonitos eram sem dúvida as manhãs em que nos levantávamos cedinho e esperávamos pelo nascer do Sol na praia. Os primeiros raios de luz da manhã a embater no imponente vulcão ainda coberto pela auréola de neblina matinal, são imagens de uma beleza sem igual e que guardaremos para sempre num cantinho especial das nossas memórias. Saímos de Amed de coração cheio.

Seguimos para a ilha vizinha Lombok, incrivelmente tão diferente apesar de tão próxima geograficamente. Nem os idiomas praticados são os mesmos, no entanto a maior diferença reside na religião maioritariamente muçulmana, tão distinta do hinduísmo praticado em Bali. Seguramente Lombok será a próxima grande aposta turística da Indonésia, sendo notório o enorme investimento que está a ser feito em novos hotéis, resorts, estradas e restaurantes, contudo a população não está ainda tão preparada para receber, vendo o turista como forma de sacar dinheiro a curto prazo. Hospedámo-nos em Senggigi onde tratámos da extensão do visto, processo necessário para permanecer no país por mais de 30 dias e que acabou por se revelar muito mais caro e burocrático do que esperávamos. A primeira vez que nos deslocámos ao gabinete de imigração batemos com o nariz na porta, supostamente seria um feriado que aparentemente ninguém conhecia, tendo ainda que lá voltar mais 3 vezes para concluir finalmente o processo. Durante o período de espera que levou 6 dias, alugámos uma scooter e aproveitámos para conhecer Senggigi e Kuta Lombok, percorrendo as estradas junto ao mar e descobrindo as suas belas paisagens e praias. Nesta última deparámo-nos com algo incrivelmente surpreendente ao qual apelidámos de momento Ronaldo. Fomos abordados por dezenas de miúdas completamente histéricas que nos queriam tocar e fotografar, obviamente encantadas pelas 2 Inês que claramente contrastavam com as suas burcas e corpos tapados. No início achámos alguma piada à situação mas rapidamente nos cansámos daquele chinfrim constante, fugindo em busca de algum sossego.

Ainda pertencentes a Lombok, seguimos para as ilhas Gili onde nos hospedámos num confortável homestay na tranquila ilha Gili Air, onde até tivemos como convidado especial no nosso quintal um dragão de Komodo, uma espécie de pequeno crocodilo com lagarto gigante. Adorámos esta pequena ilha de lindas praias e magníficos pôr-do-sol, longe da azáfama dos lugares turísticos, onde se consegue dar uma volta completa em pouco mais de 1h e onde o meio de transporte são as carroças. Fizemos um excelente tour de snorkeling pelas 3 ilhas Gili, onde nadámos em águas límpidas com inúmeros peixes coloridos sobre bonitos corais, mergulhámos no meio de estátuas subaquáticas e até avistámos um navio afundado. Parámos ainda para descansar um pouco e conhecer a Gili Meno, ainda mais pequena, selvagem e tranquila, mas o ponto alto foi sem dúvida termos nadado com várias tartarugas no seu habitat natural, desfrutando de uma envolvente tão espetacular na presença de um animal tão bonito e simpático, uma experiência incrível que já procurávamos desde o início da viagem. Por cá passámos uns dias maravilhosos mas tivemos um pequeno senão. Na cultura muçulmana fazem-se várias rezas diárias e as mesquitas estão munidas de colunas que as transmitem em alto volume para toda a comunidade, sendo que nesta altura do ano festeja-se o ramadão, o que significa mais rezas durante o dia e a noite. Apesar da vontade de ficar mais uns dias a usufruir de tão belas paisagens dignas de um filme, não aguentámos a banda sonora e tivemos que nos fazer ao mar. Aqui nos despedimos dos nossos amigos Inês e Francisco que voltariam para a sua vida laboral, enquanto nós continuaríamos a nossa aventura. Gostámos muito de viajar com eles e esperemos que um dia se volte a repetir.

Já pertencente a Bali chegámos à Nusa Penida, o local mais bonito que encontrámos na Indonésia. Estávamos finalmente de volta ao território hindu, onde visitámos um impressionante templo construído dentro de uma gruta subterrânea, um importante local de culto onde fizemos meditação sob orientação de um mestre, transmitindo-nos boas energia e muita paz. A ilha era grande e com vários pontos de interesse espalhados por todo o seu território, sendo a moto a forma mais fácil de nos deslocarmos, no entanto as estradas encontravam-se péssimas e os locais incrivelmentemente remotos, em que cada trajecto acabaria por se tornar numa verdadeira aventura cheia de buracos, caminhos por entre a floresta e alguns momentos em que nos perdemos no meio do nada. Num destes trajetos encontrámos outro incrível templo, agora sob uma enorme falésia e debaixo de uma pequena queda de água, em que para lá chegarmos tivemos que nos aventurar numa respeitosa escadaria sobre o mar, onde avistámos inúmeras mantas gigantes a nadar livremente no oceano. A descida era bastante íngreme e as alturas impuseram algum respeito não sendo uma tarefa fácil, mas até acabou por se tornar numa boa preparação para a aventura das aventuras, desta feita em Kelingking Beach, uma espetacular praia situada entre encostas rochosas em forma de T-Rex. Cá de cima a vista é fabulosa e lá baixo a praia é realmente muito bonita, no entanto o grande problema está no seu tão difícil acesso, não aconselhável a pessoas com problemas de alturas e fraca agilidade física, onde é necessário descer uma gigante e muito íngreme ravina em escalada por mais de meia hora, sem ajuda da cordinha e com vista privilegiada para o precipício. Confessamos que o caminho foi muito penoso mas chegar lá a baixo é uma sensação incrível, e desfrutar daquela praia e de tão bela envolvente faz valer muito a pena toda a aventura. Visitámos ainda outras praias lindíssimas tais como Cristal Bay, Broken Beach, Suwehan Beach e Atuh Beach, esta última a mais bonita de todas. Adorámos todo o tempo passado nesta linda ilha que irá deixar saudades, mas aproximava-se a data da partida da Indonésia e ainda havia outros locais que gostaríamos de conhecer.

Para o fim deixámos a zona de Uluwatu por ser mais próxima do aeroporto, onde visitámos o templo local que achámos ficar à quem das expectativas, ainda para mais encontrando-se numa área florestal onde habitam centenas de macacos larápios que roubam tudo o que conseguem: chinelos, óculos, malas, chapéus, telemóveis, etc. Também visitámos a muito requisitada Dreamland Beach que igualmente não adorámos, preferindo outras praias locais tais como Padang Padang Beach, a bonita e famosa praia onde gravaram o filme Eat Pray Love, e a nossa preferida Balangan Beach, bem pertinho do nosso homestay, onde passámos mais tempo e contemplámos belíssimos pôr-do-sol. Aí fizemos uma interessante aula de acroyoga aproveitando um belo entardecer no cimo de uma encosta sobre o areal, onde com a ajuda da professora conseguimos fazer várias posições acrobáticas dignas do circo, sob os últimos raios de sol do dia, uma experiência muito agradável que gostaríamos de voltar a repetir. Aproximava-se a data do nosso voo e aproveitámos os últimos dias para descansar um pouco e recuperar energias para a próxima aventura, sendo que os passámos maioritariamente deitados junto à piscina do hotel a relaxar. Na última dia acordámos de manhã cedinho, despedimo-nos e apanhámos um táxi para o aeroporto.

Com isto chegamos ao fim da nossa aventura de 37 dias pela Indonésia, experiência que adorámos e recomendamos. É um país muito bonito, barato e cheio de pessoas simpáticas prontas a contribuir para que não nos falte nada, contudo tem ainda um grande problema raramente retratado nas objectivas dos Instagramers que é o lixo. Estamos a falar de um dos países mais populosos do mundo com 266 milhões de habitantes, onde ainda é muito limitado o acesso à escolaridade, revelando-se escassas as boas práticas ambientais e refletindo-se em quantidades impressionantes de plástico que contaminam os oceanos. Pode ser que nesta era tecnológica e de tão fácil acesso à informação, as populações se sintam mais responsáveis pelo nosso planeta e que o comecem a estimar melhor.

Adorámos partilhar as nossas experiências convosco, esperemos que tenham gostado e que possamos continuar a ter-vos desse lado. Em breve escreveremos mais novidades. Até já.

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